Em meio às tensões crescentes no Oriente Médio, a possibilidade de um bloqueio no Estreito de Ormuz acende o alerta em todo o mundo — inclusive no Brasil. Responsável por cerca de 20% do comércio global de petróleo, o Estreito é uma rota estratégica localizada entre o Irã e os Emirados Árabes Unidos, por onde passam diariamente mais de 17 milhões de barris de petróleo e gás natural liquefeito.
Caso o estreito seja fechado, especialistas alertam para uma reação em cadeia que poderá afetar diretamente o bolso do consumidor brasileiro, além de causar instabilidade na economia do país.
Alta nos combustíveis e inflação em cadeia
Apesar de ser um país produtor de petróleo, o Brasil ainda depende do mercado internacional para definir os preços dos combustíveis. Um possível fechamento de Ormuz geraria uma disparada no valor do barril do petróleo Brent, referência mundial, o que impactaria os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha (GLP) nas bombas e botijões brasileiros.
“Uma crise dessa magnitude provocaria alta imediata nos combustíveis e, consequentemente, aumentaria os custos logísticos de produção e transporte. Isso pressiona diretamente a inflação”, explica o economista Daniel Moreira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Comércio exterior e fertilizantes sob risco
Outro ponto de preocupação está na logística internacional. O Brasil é fortemente dependente das rotas marítimas para exportação de commodities e importação de fertilizantes — insumos essenciais para o agronegócio. A elevação do frete e o risco de atrasos nas entregas de fertilizantes vindos do Oriente Médio e da Ásia podem impactar a próxima safra e encarecer ainda mais os alimentos.
“Um bloqueio afetaria o abastecimento global de potássio e outros fertilizantes. Isso impacta diretamente a agricultura brasileira, que já enfrentou problemas de escassez na pandemia e durante a guerra na Ucrânia”, lembra Moreira.
Instabilidade financeira e alta do dólar
Com o aumento da tensão internacional, o dólar tende a se valorizar frente ao real, o que também pressiona a inflação. Além disso, empresas com dívida externa em dólar podem sofrer perdas, e a Bolsa de Valores brasileira (B3) pode registrar queda com a fuga de capitais de países emergentes.
Brasil em posição delicada na política externa
No campo diplomático, o Brasil historicamente adota uma postura de neutralidade em conflitos do Oriente Médio. No entanto, uma crise dessa escala poderá forçar o governo brasileiro a se posicionar em fóruns internacionais e a rever sua política de segurança energética.
“Esse episódio reforça a importância de diversificar fornecedores, investir em reservas estratégicas e ampliar a produção nacional de fertilizantes, por exemplo”, analisa a professora de relações internacionais Carla Menezes, da UFRJ.
Cenário ainda incerto, mas com potencial global
Embora ainda não haja um bloqueio confirmado, o simples risco já causa movimentações nos mercados e aumenta a volatilidade. O Estreito de Ormuz, considerado o “gargalo” do comércio global de petróleo, tornou-se novamente o centro das atenções em um mundo ainda marcado por tensões geopolíticas, mudanças climáticas e disputas por recursos.
Enquanto a crise não se concretiza, o Brasil observa com cautela, consciente de que, mesmo a milhares de quilômetros de distância, as consequências podem chegar às prateleiras e aos postos de combustíveis do país.