A Alemanha viveu, em 2024, um preocupante avanço nos registros de antissemitismo, com um crescimento de 77% em relação ao ano anterior. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (04) pela Associação Nacional de Centros de Pesquisa e Informação sobre Antissemitismo (Rias), revelando um total de 8.627 ocorrências – o maior número desde o início da série histórica, em 2020.
O levantamento inclui desde agressões físicas e ameaças até manifestações verbais e ataques virtuais. Embora apenas oito episódios envolvam violência grave, a maioria esmagadora — mais de 7,5 mil — diz respeito a atitudes ofensivas, como insultos e discursos de ódio. A entidade identificou ainda que 1.309 desses episódios foram direcionados diretamente a indivíduos judeus ou israelenses.
Segundo o relatório, a escalada já vinha sendo observada em 2023, mas se intensificou drasticamente após o ataque do Hamas a Israel em outubro daquele ano, que resultou em milhares de mortos e desencadeou o atual conflito em Gaza. A repercussão da guerra contribuiu para o acirramento das tensões e para o aumento de manifestações antissemitas na Alemanha.
“Judias e judeus passaram a ser responsabilizados por ações do governo de Israel, o que é uma distorção perigosa”, afirmou Benjamin Steinitz, presidente da Rias, durante a apresentação do relatório. Ele também criticou a falta de empatia com as vítimas do antissemitismo e alertou para a normalização desse tipo de discurso no país.
O cenário preocupa especialmente em ambientes acadêmicos. Só em 2024, as universidades alemãs registraram 450 episódios de antissemitismo, enquanto as escolas somaram 284. O presidente da Associação de Estudantes Judeus da Alemanha, Ron Dekel, relatou um ambiente cada vez mais hostil nas instituições de ensino superior e defendeu medidas de proteção mais firmes.
Grande parte dos casos, segundo a Rias, está ligada a manifestações de ativismo anti-Israel, frequentemente em contextos políticos e sociais polarizados. No entanto, o relatório também destaca um aumento expressivo nas ocorrências ligadas à extrema direita, que somaram 544 casos — o maior volume desde 2020.
O comissário federal para o combate ao antissemitismo, Felix Klein, considerou os números alarmantes e afirmou que o ódio contra judeus parece estar se tornando socialmente tolerado. Ele também condenou tentativas de relativizar o passado nazista ao compará-lo com políticas contemporâneas.
Josef Schuster, presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, afirmou que os dados confirmam uma realidade cotidiana de medo e hostilidade enfrentada pela comunidade judaica. “A vida de muitos judeus na Alemanha está cada vez mais marcada por ódio”, declarou.
A Rias, financiada pelo governo federal, atua desde 2018 e se tornou referência na documentação de episódios de antissemitismo no país. A entidade também alerta para a possibilidade de subnotificação, ressaltando que o cenário pode ser ainda mais grave do que os números indicam.