Tive o prazer, junto com o Prof. Lourival, de assistir a palestra mediada pelo Renato Grau, com as participações da Paula Mateus, Karol Oliveira e Felipe Carvalho, com o tema “O futuro não espera: um encontro de inquietos e inovadores”. Palestra antenadíssima e muito interessante e, como costumo dizer: “se não incomodar foi mais do mesmo”, coloco aqui os meus incômodos. Consequência direta da excelência da palestra.
Começo com as definições do Cisnes, o Negro e o Vermelho. Conhecia o Negro, e o Vermelho me foi bem recebido. Cisne Negro, exemplo claro dado pela Paula, é aquele acontecimento que nos pega de surpresa, como foi a pandemia do COVID-19. Ninguém espera e ela aconteceu. Já o Cisne Vermelho, é aquele evento que acontece como surpresa fosse, mas vem sendo anunciado, sentido e nada é feito até que acontece. Mudanças Climáticas, a Previdência Social, foram alguns exemplos citados, como também foi a IA.
Uma pequena observação: quando me coloco incomodado é porque participei de um evento que me fez pensar. Aquele que não incomoda as pessoas, são eventos que não acrescentaram nada, mais do mesmo. Na palestra em questão, fiquei incomodado, porém não havia espaço para o debate devido a organização do evento, daí a presente escrita.
O que me incomodou não foi o termo “negligência”, que cabe bem na definição do Cisne Vermelho, mas a sua generalização, a partir de alguns dos exemplos. No mesmo momento lembrei do Darcy Ribeiro quando nos disse que o Brasil é um projeto que deu certo. Uma vez que este projeto foi desenhado para nos manter colônia, produtor primário e subserviente. Não houve negligência, houve um projeto, que em curtos períodos de nossa história foi questionado, como está sendo atualmente.
Vivemos em um mundo hoje, onde a tônica é o financeiro e não a produção. Água é comodities, como o crédito de carbono virou e o oxigênio poderá vir a ser. Todo bem público está sendo transformado em bem de consumo.
Financeirizar a Saúde não será solução, será mais uma fonte de acúmulo de capital no andar de cima. Acredito na tele ciência. No futuro, sonho com as imagens do Dr. MacCoy, curando e tirando do coma o Chekov, após um traumatismo craniano, depois de uma queda em que bate a cabeça (Jornada nas Estrelas). Mas tive pesadelos quando minha neta com pneumonia foi atendida a distância, onde a médica não tinha condições técnicas de ouvi-la, ver sua garganta ou seus batimentos. Vamos chegar a isto em breve, mas qual pai ou mãe terá estes aparelhos ligados ao seu laptop ou relógio para conectar o paciente e transmitir os dados? Hoje, não seria a maioria da população.
O clima não está sendo só negligenciado, faz parte de um projeto de acúmulo de capital também. Basta ver a atuação de nosso Congresso em relação as mudanças climáticas, na liberação dos venenos agrícolas… O mesmo acontece na Previdência, desde antes da Constituição de 88 que, hoje continua tendo sua verba desviada para obras públicas. Da Ponte Rio x Niterói, Usina de Itaipu e outras. Soma-se isso aos 50% de nossa mão de obra precarizada ou informal. A Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, criada na CF de 88, com alíquota de 8% para bancos e financeiras, chegou a 30% e nos governos FHC voltou aos 8%. Hoje está em 9%. Vale a lembrança que a verba da Seguridade Social alimenta a Previdência, a Assistência Social e o SUS.
No mundo digital não é diferente, os donos das IAs e das Redes Sociais não admitem regulação. Não interessa as manipulações em nossos comportamentos, o volume de seus lucros sem qualquer incidência de impostos. Ou mesmo nas mortes, em especial de adolescentes nos desafios das redes e os chamados “bullings”. Neste caso, não se pode falar em negligência, a disputa de ideias está posta e as claras. Fizemos o Marco Civil da Internet, porque não o das Redes Sociais?
Há Braços
Sérgio Mesquita
Maricá-RJ
