Uma nova e preocupante escalada de violência assola a fronteira entre a Tailândia e Camboja, reacendendo uma disputa territorial centenária que já resultou em mortes e deslocamento em massa. Os confrontos, que se intensificaram nos últimos dias, transformaram a região em um palco de artilharia pesada e acusações mútuas, gerando um alerta global para o risco de uma guerra em larga escala.
A rivalidade entre Tailândia e Camboja não é recente. A disputa territorial remonta a um mapa desenhado em 1907, durante o domínio colonial francês, que o Camboja utiliza como base para suas reivindicações. A Tailândia, por sua vez, contesta essa demarcação. Um dos pontos mais sensíveis e emblemáticos dessa contenda é a região do templo Preah Vihear. Embora a Corte Internacional de Justiça tenha concedido a soberania do templo ao Camboja em 1962, decisão reafirmada em 2013, a Tailândia rejeita a jurisdição do tribunal, o que tem levado a conflitos esporádicos ao longo das décadas, como o embate de 2011 que deixou cerca de 20 mortos.
A Escalada Recente
Os últimos dias foram marcados por uma drástica intensificação dos combates. Desde quinta-feira (24 de julho de 2025), os confrontos armados na fronteira já resultaram em pelo menos 16 mortes, sendo 15 do lado tailandês e uma do lado cambojano. O conflito, que inicialmente envolvia armas leves, rapidamente evoluiu para bombardeios intensos em pelo menos seis pontos ao longo dos 209 km da fronteira disputada. O exército tailandês relatou o uso de artilharia e foguetes BM-21 de fabricação russa pelo Camboja. Em resposta, a Tailândia mobilizou caças F-16, um dos quais atacou um alvo militar cambojano, ação classificada pelo Camboja como “agressão militar imprudente e brutal”.
Milhares de civis foram forçados a deixar suas casas. As autoridades tailandesas evacuaram cerca de 100 mil pessoas das áreas de conflito, e o governo tailandês declarou lei marcial em oito distritos de duas províncias fronteiriças.
Crise Diplomática e Acusações Mútuas
A escalada militar foi acompanhada por uma deterioração significativa das relações diplomáticas. Na quarta-feira (23 de julho de 2025), a Tailândia retirou seu embaixador do Camboja e expulsou o embaixador cambojano de Bangcoc. Em retaliação, o Camboja suspendeu importações de produtos tailandeses e proibiu filmes e programas do país vizinho. Ambos os países se acusam mutuamente de iniciar os confrontos. A Tailândia alega que soldados cambojanos pisaram em minas terrestres recentemente instaladas em áreas que deveriam ser seguras por acordo mútuo, enquanto o Camboja nega as acusações, afirmando que os explosivos são resquícios de conflitos passados.
As tensões são alimentadas por paixões nacionalistas e pressões políticas internas em ambos os países. No Camboja, a liderança de Hun Manet, atual primeiro-ministro, enfrenta desafios. Na Tailândia, a primeira-ministra Paetongtarn Shinawatra foi suspensa do cargo, o que gerou protestos e adicionou complexidade à situação.
A comunidade internacional observa o conflito com crescente preocupação. Os Estados Unidos, aliados históricos da Tailândia, pediram a “cessação imediata das hostilidades, proteção aos civis e uma solução pacífica”. A Malásia, por meio de seu primeiro-ministro Anwar Ibrahim, presidente da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), tentou mediar um cessar-fogo, mas a Tailândia rejeitou a intermediação, embora tenha se mostrado aberta ao diálogo direto com o governo cambojano.
O conflito na fronteira entre Tailândia e Camboja representa um sério desafio para a estabilidade regional. A complexidade da disputa histórica, a escalada militar e a crise diplomática exigem uma abordagem cautelosa e a busca por soluções pacíficas para evitar uma tragédia ainda maior. A atenção internacional permanece voltada para a região, na esperança de que o diálogo prevaleça sobre a violência.
Referências:
https://exame.com/mundo/por-que-a-tailandia-e-o-camboja-estao-brigando-aqui-vai-um-guia-rapido/