Por Priscilla Cruz — Colunista do Conexão do Povo
Nos últimos anos, aprendemos a aplaudir a força — mas esquecemos de valorizar o sentir.
Vivemos em uma cultura que idolatra a superação, o controle, a resiliência constante.
Ser forte virou sinônimo de sucesso.
E, silenciosamente, fomos nos afastando daquilo que é mais essencial: a permissão de ser humano.
Desde cedo ouvimos frases como “engole o choro”, “levanta e continua”, “não demonstra fraqueza”.
E sem perceber, crescemos acreditando que emoção é sinônimo de desordem, que vulnerabilidade é um risco e que sentir é perder o controle.
Mas é justamente o contrário: o descontrole nasce quando reprimimos o que precisa ser sentido.
Eu também já vesti a armadura da força.
Aquela que tenta segurar o mundo nos ombros, disfarçando o cansaço com um sorriso ensaiado.
Por muito tempo, acreditei que equilíbrio emocional era não me abalar.
Mas descobri, no silêncio das pausas e no espelho das dores, que o verdadeiro equilíbrio nasce quando a gente se autoriza a ser real.
Ser forte não é não sentir. É não se perder de si quando sente.
A romantização da força emocional nos tornou resistentes, mas não resilientes.
A resistência endurece — a resiliência, ensina.
A primeira cria muros, a segunda constrói pontes.
E foi aprendendo a desarmar os meus muros que entendi que há beleza até nas rachaduras.
Somos seres emocionais tentando sobreviver em um mundo que exige produtividade, coerência e constância o tempo todo.
Mas o humano é cíclico.
Há dias em que somos potência, e dias em que somos pausa.
Dias em que damos o nosso melhor, e outros em que apenas existir já é o suficiente.
Ser humano é viver nesse movimento entre força e entrega.
Entre o “consigo” e o “preciso respirar”.
Entre o “sei o que quero” e o “hoje só quero sentir”.
A maturidade emocional não está em controlar as emoções, mas em fazer as pazes com elas.
Em entender que raiva, medo, tristeza e alegria não são inimigas — são bússolas.
Cada uma aponta para algo que precisa ser olhado, entendido e curado.
Quando eu decidi olhar pra dentro, percebi que a força que eu buscava estava ali, na minha vulnerabilidade.
Foi o autoconhecimento que me ensinou que equilíbrio não é estabilidade — é presença.
Estar inteira, mesmo nas partes quebradas.
Estar consciente, mesmo quando não há respostas.
E talvez esse seja o grande aprendizado de quem decide se conhecer:
descobrir que não existe linha de chegada emocional, apenas o caminhar entre extremos — e o aceitar-se no meio do caminho.
Nem forte demais, nem fraco demais. Apenas humana.
E é desse lugar que eu sigo: comunicando, sentindo, ensinando — e me permitindo ser.
A verdadeira força está em permitir-se sentir, sem perder-se de si.
E o verdadeiro equilíbrio está em acolher cada parte sua — até as que o mundo ainda não aprendeu a aplaudir.

Priscilla Cruz
Mentora, Psicanalista e Palestrante
@priscillacruzoficial