A Amazônia Legal brasileira enfrenta uma escalada alarmante na presença e influência de facções criminosas, que estão migrando do narcotráfico tradicional para o controle de atividades ilícitas ambientais, como o garimpo ilegal. Um estudo recente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) em Belém, revela que o crime organizado se estabeleceu em 45% dos municípios da região, um aumento de 32% em relação ao ano anterior.
O Domínio do Garimpo Ilegal
O avanço das facções não é apenas territorial, mas também econômico. Em regiões como Alta Floresta, no Mato Grosso, o Comando Vermelho (CV) está impondo um regime de terror e taxação sobre o garimpo ilegal. Mensagens obtidas pela Agência Brasil indicam que a facção tornou “obrigatório” o cadastro e o pagamento de mensalidades para todos que operam balsas e escarientes (equipamentos de extração mineral).
O “informativo” da facção estabelece prazos de pagamento e uma tabela de valores baseada no tipo de equipamento. As consequências para a não conformidade são brutais: os infratores são ameaçados de roubo, impedimento de trabalhar, destruição de máquinas e, em última instância, a perda da própria vida, em uma clara demonstração de controle territorial armado.
“Lembrando que aqueles que não estiverem fechando com nós será liberado o mesmo ser roubado e também ser brecado de trabalhar. Se por acaso insistir será queimado sua máquina e poderá perder até mesmo a própria vida por estar batendo de frente”.
A Estratégia de Expansão e o Lucro Ambiental
A diretora-executiva do FBSP, Samira Bueno, explica que as facções, majoritariamente ligadas ao narcotráfico, identificaram nos crimes ambientais uma nova e lucrativa via para gerar e lavar dinheiro. A Amazônia, com sua vasta extensão e riqueza natural, tornou-se um corredor estratégico para o escoamento de drogas e um novo campo de batalha pelo controle de recursos.
O CV, por exemplo, demonstrou sua capacidade de controlar toda a cadeia de extração de ouro na Terra Indígena Sararé, no Mato Grosso, onde garimpeiros agora pagam taxas para explorar o território. Essa lógica de controle armado, antes vista em grandes centros urbanos, está se replicando nos territórios amazônicos.
O Preço da Violência
A expansão do crime organizado tem um custo humano devastador. A taxa de Mortes Violentas Intencionais (MVI) na Amazônia Legal é de 27,3 por 100 mil habitantes, um índice 31% superior à média nacional.
O Amapá se destaca como o estado mais violento do país, com uma taxa de 45,1 MVI por 100 mil habitantes. O Maranhão, por sua vez, registrou um aumento de 11,5% nas taxas de homicídio entre 2023 e 2024, impulsionado pela disputa territorial entre o Bonde dos 40, o CV e o PCC.
Cidades estratégicas para o crime, como Vila Bela da Santíssima Trindade (MT), próxima à fronteira com a Bolívia, viram seus assassinatos triplicarem em dois anos, um fenômeno diretamente ligado ao avanço do CV. Sorriso (MT), a “capital nacional do agronegócio”, também registrou 72 homicídios em 2024, refletindo a intensificação da segurança pública no estado, que se tornou estratégico para o narcotráfico.
A violência atinge as mulheres de forma desproporcional. O documento indica que 586 mulheres foram assassinadas na Amazônia Legal em 2024, com uma taxa 21,8% superior à média nacional. O Mato Grosso é o estado mais letal para mulheres na região.
Diante desse cenário, Samira Bueno defende que o Estado brasileiro precisa urgentemente buscar soluções que integrem o combate ao crime organizado com a proteção ambiental e a garantia de segurança e cidadania nos territórios, adaptando as políticas de segurança e enfrentamento à violência doméstica às realidades locais e específicas da Amazônia.
Algumas informações obtidas através de uma entrevista realizada pela Agência Brasil



