A Califórnia (EUA) enfrenta uma de suas maiores crises civis dos últimos anos após o envio de tropas da Guarda Nacional às ruas por ordem do presidente Donald Trump. A decisão, tomada sem o consentimento do governo estadual, acendeu um intenso debate jurídico e político, além de provocar uma onda de protestos em diversas cidades, especialmente em Los Angeles.
A medida foi oficialmente justificada como uma resposta à “escalada de violência” durante manifestações contra operações federais de imigração. No entanto, o governo estadual afirma que a situação está sendo “deliberadamente dramatizada” para justificar uma ação inconstitucional de militarização.
O QUE ESTÁ ACONTECENDO?
Desde o início de junho, agentes federais intensificaram ações de deportação em bairros majoritariamente latinos na região metropolitana de Los Angeles. Em resposta, manifestantes tomaram as ruas em atos contra o que chamam de “abuso sistemático” por parte das autoridades de imigração.
Na sexta-feira (6), a presença da Guarda Nacional foi confirmada em pontos estratégicos da cidade. Tanques, tropas armadas e helicópteros sobrevoando bairros residenciais causaram apreensão e aumentaram a tensão entre civis e autoridades.
De acordo com o Departamento de Polícia de Los Angeles (LAPD), mais de 30 manifestantes foram presos em dois dias. Vídeos compartilhados nas redes mostram confrontos com uso de gás lacrimogêneo, balas de borracha e barricadas improvisadas por manifestantes. Um veículo autônomo foi incendiado no centro da cidade.
LEGALIDADE EM JOGO
A decisão de Trump de mobilizar tropas federais sem o aval do governo californiano foi duramente criticada pelo governador Gavin Newsom, que classificou a medida como “uma afronta direta à Constituição dos Estados Unidos”.
“Não fomos consultados. Não autorizamos. E não aceitaremos que a Califórnia se torne palco de um teatro político armado”, declarou Newsom em coletiva.
O procurador-geral do estado, Rob Bonta, entrou com uma ação judicial pedindo a retirada imediata das tropas, argumentando que a medida viola o Título 10 do Código dos EUA, que permite o envio de tropas apenas em casos de invasão, insurreição ou desastre natural.
ESPECIALISTAS ALERTAM
Para juristas e analistas políticos, o episódio representa um ponto crítico para o equilíbrio federativo americano. “Estamos vendo um ex-presidente desafiar a soberania de um estado com respaldo apenas em sua própria narrativa de crise”, avalia a professora de direito constitucional Elena Duarte, da Universidade de Sacramento.
Segundo ela, a manobra pode estabelecer um precedente perigoso: “Se não houver uma resposta firme das instituições, o próximo passo pode ser o uso de forças militares contra qualquer protesto civil que desagrade um líder político”.
VOZES DAS RUAS
Enquanto as batalhas jurídicas ocorrem nos tribunais, os protestos continuam nas ruas. Manifestantes carregam cartazes com frases como “Democracia não se reprime com fuzis” e “Califórnia livre de autoritarismo”. Grupos de defesa de direitos civis, como a ACLU, acusam o governo federal de tentativa de intimidação.
Moradores de bairros atingidos relatam noites de tensão e medo. “Parece que estamos em zona de guerra. Helicópteros, sirenes, soldados… tudo isso por protestarmos por nossos direitos?”, disse a enfermeira Mariela López, de 33 anos, moradora de Westlake.
O QUE ESPERAR AGORA?
Com a ação judicial em andamento e protestos marcados para os próximos dias, a expectativa é de que a Suprema Corte possa ser acionada caso não haja consenso entre os poderes estaduais e federais.
Enquanto isso, Trump reforça nas redes sociais que “não recuará diante do caos causado pela esquerda radical”, acirrando ainda mais os ânimos.
Resumo do cenário:
• Mais de 2.000 soldados da Guarda Nacional foram mobilizados;
• Protestos e confrontos se espalham por Los Angeles e arredores;
• Governador contesta constitucionalidade da ação;
• Ação judicial em curso pode definir os limites da intervenção federal.