A prisão de Danúbia Rangel, ex-mulher do Nem da Rocinha, ocorrida no sábado, 5 de julho de 2025, não foi um evento fortuito, mas o resultado de um trabalho minucioso de inteligência da Polícia Civil do Rio de Janeiro, especificamente da 72ª DP (São Gonçalo). Ciente da gravidez de Danúbia e da iminência do parto, a equipe policial monitorou possíveis locais onde ela poderia se internar. A localização na Maternidade Perinatal, na Barra da Tijuca, permitiu que os agentes agissem no momento oportuno, cumprindo um mandado de prisão condenatória que estava em aberto desde 10 de junho de 2025.
O mandado foi expedido pela 5ª Vara Criminal da Capital do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, com base em uma condenação transitada em julgado por tráfico de drogas. A pena imposta a Danúbia é de 9 anos e 4 meses de reclusão em regime fechado. A operação, que culminou na sua detenção logo após o parto, gerou repercussão imediata, destacando a persistência das autoridades em fazer cumprir a lei, mesmo em circunstâncias tão delicadas. Danúbia permanecerá sob custódia na maternidade até receber alta médica, momento em que será transferida para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte do Rio.
Histórico Criminal: Um Passado de Idas e Vindas com a Justiça
A trajetória de Danúbia de Souza Rangel com a justiça não é recente. Ela já havia sido presa em 2017, após ser condenada por crimes de associação ao tráfico de drogas e corrupção ativa. Sua pena anterior foi cumprida no Instituto Penal Oscar Stevenson, em Benfica, na Zona Norte do Rio. Em janeiro de 2024, Danúbia obteve a liberdade após cumprir 8 anos, 2 meses e 20 dias de sua pena, beneficiada por um alvará que considerou a extinção da condenação.
Durante seu período de reclusão, Danúbia chegou a progredir para o regime semiaberto em 2019, mas retornou ao regime fechado após agentes penitenciários encontrarem um celular com selfies em sua cela. Esse episódio demonstra a complexidade de seu histórico e a dificuldade em se desvincular completamente do ambiente prisional. Ela sempre negou veementemente seu envolvimento direto com o tráfico, alegando que sua associação ao crime se deu apenas por ser mulher de Nem da Rocinha.
Vida Pós-Liberdade: A Tentativa de Reinvenção como Influenciadora
Após sua libertação em janeiro de 2024, Danúbia Rangel buscou uma nova identidade e um novo caminho, investindo na carreira de influenciadora digital. Ela utilizou as redes sociais para compartilhar sua rotina diária, mostrando uma vida que parecia distante do passado no crime. Nesse período, Danúbia se casou novamente e realizou diversos tratamentos estéticos, incluindo procedimentos odontológicos e de harmonização facial, numa aparente tentativa de se reinventar e deixar para trás a imagem associada ao tráfico.
Essa fase de sua vida, no entanto, foi abruptamente interrompida pela recente prisão, demonstrando a dificuldade de se desvencilhar completamente das consequências de um passado criminal, especialmente quando há mandados de prisão em aberto. A transição de “Xerifa da Rocinha” para influenciadora digital, embora tenha gerado visibilidade, não a isentou das pendências com a justiça.
A “Xerifa da Rocinha”: O Apelido e a Conexão com Nem
Danúbia de Souza Rangel ficou amplamente conhecida como a “Xerifa da Rocinha”, um apelido que reflete sua forte ligação com Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, um dos mais proeminentes chefes do tráfico de drogas no Rio de Janeiro. O título de “Xerifa” não era apenas uma referência ao seu relacionamento com Nem, mas também, segundo investigações policiais e do Ministério Público, indicava sua influência e papel dentro da comunidade, mesmo após a prisão do ex-marido.
Nem da Rocinha, que comandava a maior favela do Rio e era ligado à facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos), foi preso em novembro de 2011 e atualmente cumpre pena em uma penitenciária federal em Porto Velho, com uma condenação de 145 anos de prisão. As investigações mais recentes apontam que Nem agora integra a facção TCP (Terceiro Comando Puro). A vida de Danúbia sempre esteve intrinsecamente ligada à figura de Nem, e o apelido “Xerifa” solidificou essa percepção pública de seu envolvimento com o universo do tráfico, apesar de suas negativas.
Situação Atual: Da Maternidade à Cadeia Pública
Atualmente, Danúbia de Souza Rangel permanece sob custódia na maternidade onde deu à luz, aguardando alta médica. Assim que for liberada pelos profissionais de saúde, ela será imediatamente transferida para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte do Rio de Janeiro. Lá, ela passará por uma audiência de custódia e iniciará o cumprimento da pena de 9 anos e 4 meses em regime fechado, imposta pela justiça por tráfico de drogas.
Este desfecho ressalta a implacabilidade do sistema judiciário, que, mesmo diante de um evento tão pessoal como o nascimento de um filho, prioriza o cumprimento da lei. A situação de Danúbia levanta questões sobre o impacto da prisão materna e o futuro da criança, que nasce em um contexto de privação da liberdade de sua mãe.
Conclusão: Um Caso que Reflete Desafios Sociais e Judiciais
A prisão de Danúbia Rangel, ex-mulher de Nem da Rocinha, em um momento tão sensível como o pós-parto, é um caso que transcende a esfera individual e lança luz sobre questões mais amplas da sociedade brasileira. Ele evidencia os desafios da ressocialização de indivíduos com histórico criminal, a persistência da justiça em fazer cumprir mandados de prisão e as complexas relações entre o crime organizado e a vida pessoal de seus envolvidos. A trajetória de Danúbia, de “Xerifa da Rocinha” a influenciadora digital, e agora novamente detida, serve como um lembrete de que o passado, no contexto judicial, muitas vezes se impõe sobre as tentativas de recomeço. O desdobramento desse caso continuará a ser acompanhado, pois ele reflete as nuances de um sistema que busca equilibrar a aplicação da lei com as realidades humanas e sociais.
Referências:
