O Oriente Médio vive dias de apreensão com a escalada do conflito entre Israel e Irã, que se intensificou a partir da noite de quinta-feira, 12 de junho. Quatro dias de ofensivas mútuas resultaram em um número crescente de vítimas e danos significativos, levantando preocupações sobre a estabilidade regional e global. A troca de ataques, que envolveu bombardeios aéreos e lançamento de mísseis, reacende o debate sobre as complexas dinâmicas geopolíticas da região e os potenciais desdobramentos para a economia mundial e a segurança internacional.
Cronologia dos Ataques
A escalada do conflito pode ser traçada a partir de uma série de eventos que se desenrolaram rapidamente:
Quinta-feira (12 de junho): O Irã relatou o início de ataques israelenses em seu território na noite de quinta-feira (horário de Brasília). Detalhes específicos sobre vítimas ou alvos não foram amplamente divulgados neste dia.
Sexta-feira (13 de junho): Israel iniciou sua ofensiva, alegando como motivação o suposto avanço nuclear iraniano. Bombardeios atingiram instalações militares e nucleares iranianas. Até o domingo, 15 de junho, 13 pessoas, incluindo três crianças, foram mortas em Israel desde o início da escalada na sexta-feira.
Sábado (14 de junho): O Irã reportou 60 mortes em ataques israelenses, metade delas crianças, após um míssil atingir um apartamento de 14 andares em Teerã. O número total de mortos no Irã desde quinta-feira atingiu 128.
Domingo (15 de junho): A madrugada de domingo foi marcada por sirenes de ataques aéreos em Jerusalém e Haifa, levando cerca de 1 milhão de pessoas a abrigos. Explosões foram ouvidas em Tel Aviv e Jerusalém. Mísseis iranianos causaram ao menos 10 mortos e 385 feridos em Israel durante a noite, com 22 locais de impacto identificados. O total de vítimas israelenses desde quinta-feira subiu para 14 mortos. Israel confirmou ataques em Teerã contra infraestrutura de produção de armas nucleares e navios-tanque de combustível. O Irã, por sua vez, afirmou que Israel atacou o depósito de petróleo de Sharan e uma refinaria perto da capital, causando um incêndio.
Balanço de Vítimas e Danos
O conflito tem deixado um rastro de destruição e perdas humanas em ambos os lados:
Israel:
• Mortos: 14 pessoas (até domingo, 15 de junho), incluindo 3 crianças.
• Feridos: 385 pessoas (até domingo, 15 de junho), sendo 7 em estado grave.
Irã:
• Mortos: 128 pessoas (até domingo, 15 de junho), sendo 60 no sábado, metade delas crianças.
Impactos na Economia Global
A escalada do conflito entre Israel e Irã tem gerado preocupações significativas nos mercados globais, principalmente devido ao seu potencial impacto nos preços do petróleo e na estabilidade econômica mundial. A região do Oriente Médio é crucial para o fornecimento global de energia, e qualquer agravamento do conflito pode ter repercussões severas.
Preço do Petróleo: A principal e mais imediata consequência econômica tem sido a volatilidade e o aumento nos preços do petróleo. Com o Irã sendo um importante produtor de petróleo, a instabilidade na região pode levar a interrupções no fornecimento e, consequentemente, a um aumento acentuado nos preços. Analistas alertam que o barril de petróleo pode chegar a US$ 150, o que impactaria diretamente o preço da gasolina em diversos países, incluindo o Brasil.
Mercados Globais: A tensão geopolítica tem abalado os mercados financeiros. As ações tendem a cair em cenários de incerteza, enquanto ativos considerados mais seguros, como o ouro, registram alta. Uma guerra prolongada e mais ampla na região pode abalar os mercados de energia e as rotas comerciais, gerando um cenário de aversão ao risco e impactando o comércio internacional.
Inflação: O aumento dos preços do petróleo e a instabilidade nas cadeias de suprimentos podem contribuir para o aumento da inflação global, pressionando bancos centrais a manterem ou elevarem as taxas de juros, o que pode desacelerar o crescimento econômico.
Respostas Internacionais
Estados Unidos
Os Estados Unidos, sob a administração de Donald Trump, têm demonstrado apoio a Israel, mas com ressalvas quanto à participação direta nos ataques. Trump elogiou a ofensiva de Israel e negou as alegações iranianas de que os EUA teriam participado da ação. No entanto, ele advertiu Teerã a não ampliar a retaliação para incluir instalações ou interesses dos EUA, ameaçando com uma resposta militar sem precedentes caso isso ocorra. “Se formos atacados de alguma forma pelo Irã, toda a força e o poder das Forças Armadas dos EUA cairão sobre eles em níveis nunca vistos antes”, disse Trump. Apesar das negações dos EUA, o Irã acredita que as forças americanas endossaram e, pelo menos tacitamente, apoiaram os ataques israelenses, e afirmou que os Estados Unidos serão “responsáveis pelas consequências” dos ataques liderados por Israel. Os EUA estão intensificando seu apoio militar a Israel, mas mantêm a posição de não participação direta em ataques contra o Irã.
Rússia
A Rússia tem se posicionado de forma crítica em relação aos ataques israelenses contra o Irã. O governo russo condenou veementemente as ações de Israel, classificando-as como “categoricamente inaceitáveis” e manifestou profunda preocupação com a escalada da tensão na região. O presidente russo, Vladimir Putin, conversou com o presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a “perigosa escalada” no Oriente Médio, demonstrando a apreensão de Moscou com o agravamento da situação. A Rússia tem alertado para os riscos de uma escalada ainda maior e tem defendido a necessidade de desescalada e diálogo para resolver o conflito.
China
A China tem se posicionado contra os ataques de Israel ao Irã, expressando grande preocupação com a escalada do conflito. O governo chinês afirmou que se opõe à “violação da soberania, segurança e integridade territorial do Irã”. O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, declarou que a China apoia o Irã na “defesa de seus direitos legítimos” e que a ofensiva israelense abre um precedente perigoso que pode ter “consequências desastrosas”. A China, juntamente com a Rússia, tem condenado os ataques de Israel e denunciado a postura de Israel e dos EUA, o que demonstra um alinhamento com o Irã nesse cenário. Além disso, a China é considerada uma grande financiadora do Irã, fornecendo apoio estratégico, o que pode influenciar sua posição no conflito.
Possibilidade de 3ª Guerra Mundial
O conflito entre Israel e Irã tem levantado o debate sobre a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial. Embora a tensão seja alta e a escalada do conflito seja uma preocupação global, muitos analistas consideram que uma guerra mundial direta ainda é um cenário improvável. No entanto, a situação se assemelha a uma nova Guerra Fria, com o planeta novamente dividido em blocos de influência.
Especialistas apontam que, apesar da retórica forte e dos ataques, as grandes potências, incluindo os Estados Unidos, não têm interesse em um conflito militar direto e em larga escala que envolva o Irã. O objetivo principal de Israel seria degradar o programa nuclear iraniano, e não necessariamente iniciar uma guerra total. O Irã, por sua vez, também não parece ter interesse em envolver outros países em um conflito direto, embora ameace retaliar países que apoiem Israel.
No entanto, a escalada de tensões pode levar a um aumento de conflitos por procuração na região, com o Irã apoiando grupos que atacam interesses israelenses e americanos. A preocupação reside na imprevisibilidade de eventos e na possibilidade de erros de cálculo que possam levar a uma escalada não intencional. O risco de uma guerra nuclear, embora remoto, também é mencionado, dado o programa nuclear iraniano e a crença de que Israel possui armas atômicas.
Respostas dos Líderes
Israel
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tem se mostrado firme em sua postura, afirmando que os ataques se intensificariam nos próximos dias e que Israel ainda tem uma longa lista de alvos no Irã. As autoridades israelenses reconhecem que é improvável que os ataques destruam o programa nuclear iraniano por completo, mas expressam esperanças de que a ofensiva possa levar Teerã a negociar um acordo abrangente com os EUA. O objetivo declarado de Israel é impedir que o Irã construa uma arma nuclear e eliminar a capacidade iraniana de lançar mísseis balísticos.
Irã
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, afirmou que os ataques de Israel tinham como objetivo sabotar as negociações com os EUA, que foram canceladas. Ele declarou que a ofensiva israelense teve o apoio dos EUA e que seu país está agindo apenas em autodefesa. O Irã tem prometido uma resposta “pesada e destrutiva” aos ataques israelenses e alertou os Estados Unidos, o Reino Unido e a França que suas bases militares serão alvos caso tentem bloquear sua retaliação contra Israel.
Fatores Históricos nos Confrontos Diretos e Indiretos
A relação entre Israel e Irã nem sempre foi de inimizade. Antes da Revolução Islâmica de 1979, os dois países mantinham laços diplomáticos e comerciais, com Israel até mesmo auxiliando o Irã em projetos de desenvolvimento. No entanto, a ascensão do regime teocrático no Irã marcou uma drástica mudança nessa dinâmica.
Com a Revolução Islâmica, o Irã adotou uma postura anti-Israel, considerando o Estado judeu ilegítimo e se posicionando firmemente contra a ocupação dos territórios palestinos. Essa mudança ideológica transformou a relação de cooperação em uma rivalidade profunda, que se manifesta de diversas formas:
Disputa por Influência Regional: Ambos os países buscam ampliar suas esferas de influência no Oriente Médio. O Irã apoia grupos como o Hezbollah no Líbano e o Hamas na Faixa de Gaza, que são considerados inimigos por Israel. Israel, por sua vez, busca conter a influência iraniana na região, especialmente na Síria e no Líbano.
Programa Nuclear Iraniano: O programa nuclear do Irã é uma das principais fontes de tensão. Israel e seus aliados ocidentais suspeitam que o Irã esteja buscando desenvolver armas nucleares, o que Teerã nega, afirmando que seu programa tem fins pacíficos. Israel considera um Irã nuclear uma ameaça existencial e tem defendido ações para impedir que isso aconteça.
Conflitos por Procuração: A rivalidade entre Israel e Irã muitas vezes se manifesta através de conflitos por procuração, onde cada lado apoia diferentes facções em guerras civis e disputas regionais. Isso evita um confronto direto em larga escala, mas mantém a região em constante estado de tensão.
Ataques Cibernéticos e Operações Secretas: Além dos confrontos militares, há uma “guerra nas sombras” envolvendo ataques cibernéticos, operações de inteligência e sabotagem, visando enfraquecer as capacidades militares e nucleares de cada lado.
Esses fatores históricos e as complexas dinâmicas regionais contribuem para a volatilidade do conflito atual, que é um reflexo de décadas de desconfiança e antagonismo.
Conclusão
O conflito entre Israel e Irã, que se intensificou na última semana, representa um dos maiores desafios geopolíticos da atualidade. Com ataques e contra-ataques que resultaram em vítimas em ambos os lados, a situação exige atenção e cautela da comunidade internacional. Os impactos econômicos já são sentidos, principalmente no mercado de petróleo, e a possibilidade de uma escalada maior, embora ainda considerada improvável para uma Terceira Guerra Mundial, mantém o mundo em alerta. A complexa teia de relações históricas, interesses regionais e programas nucleares torna a resolução desse conflito um desafio multifacetado, que demandará esforços diplomáticos contínuos e a busca por soluções que garantam a segurança e a estabilidade na região e no cenário global.
Referências
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UOL Notícias. Conflito Israel-Irã se agrava, com ao menos 13 mortos em…. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2025/06/15/conflito-israel-ira-se-agrava-com-ao-menos-13-mortos-em-israel.htm
G1. Israel e Irã voltam a lançar ataques aéreos e deixam mortos e…. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/06/14/israel-e-ira-voltam-a-lancar-ataques-aereos-e-deixam-mortos-e-feridos-no-3o-dia-de-conflito.ghtml
DW. Conflito Israel-Irã piora, com ao menos 13 mortos em Israel. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/conflito-israel-ir%C3%A3-se-agrava-com-ao-menos-13-mortos-em-israel/a-72917205
InfoMoney. Israel e Irã entram no terceiro dia de combate; refinaria…. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/mundo/israel-e-ira-entram-no-terceiro-dia-de-combate-refinaria-israelense-e-atingida/
Folha de S.Paulo. Irã diz que suspende ataques se Israel também parar. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2025/06/ira-diz-que-suspende-ataques-se-israel-tambem-parar.shtml
BBC News Brasil. Ataques entre Irã e Israel: quais os piores cenários…. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c5ye183ww1zo
Times Brasil. Israel e Irã trocam ataques pelo terceiro dia consecutivo…. Disponível em: https://timesbrasil.com.br/mundo/israel-e-ira-trocam-ataques-pelo-terceiro-dia-consecutivo-enquanto-negociacoes-nucleares-sao-canceladas/
Terra. Irã lança mais mísseis em direção a Israel. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/mundo/ira-lanca-mais-misseis-em-direcao-a-israel-sirenes-disparam-em-jerusalem,2edb1b1f69cfe267472c870e3v7di5lnu.html